quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Un rinconcito secreto...


Elisa: Eu sei que vou sentir saudade da minha casa, da minha família, dos meus amigos, da minha cultura, da minha língua...
Cícero: Qual delas?
Elisa: (Silêncio absoluto e olhar perdido buscando alguma resposta.)



Ya está, primer post multi-lenguas
Dos veces ya traté de escribir en castellano, confieso que salían cosas un poco demasiado sentimentales, no me gustaba.
Decir cualquier cosa es en vano, sólo queda ese silencio perdido que busca una respuesta. Cuál es mi lengua? Ya sé y ya saben todos que no lo sé, y por ahi no me queda otra que dejarme ser de esta manera.
Voy a tratar esa vez de no dejarme levar por el sentimentalismo exacerbado, no es lo que quiero, al menos no ahora en este momento, porque si caigo en eso es como un pozo sin fin.
Nada más quiero decir que desde que volví me doy cuenta a cada día que ya no soy más Franco-Brasileña, pero ahora también soy un poco Argentina por elección, aunque hable raro, aunque me equivoque en las palabras, la Argentina hace ya parte de mi historia y de mi ser. Y junto con la Argentina ustedes (ojo Elisa, no al sentimentalismo!!!)
Leticia me hace ser más Elisa, más sueños de teatro, más charlas sinceras de la vida, más de esa complicidad única que hay entre nosotras.
Zoé me hace ser más Elisa (lease elisa en francés o sea con el acento fuerte en la A del final), más sueños del mundo y de viajes, más de Francia, más de de esas tardes de té, amistad y música.
Dani con su ternura me hace ser más yo, y su mirada sincera está siempre conmigo por las calles del mundo afuera.
Maca con su forma única y encantadora de ser colgadita me hace ser más yo, y por la vida voy sonriendo de haberla conocido.
Nadia es un ser aparte, que no se encaja al mundo sino que está en él y una vez que aprendés a vivir con ya no podés soltar, y aunque ella crea que no la quiero, extraño a cada día sus comentarios non-sens y sus provocaciones!
Analia que me apareció así, medio de la nada en la vida, me muestra a cada día que una buena amistad puede crecer en la distancia y me siento feliz de haberla conocido y de saber que en la vida todavía queda tanto por compartir!
Marce es Argentina pura, es música, sabores y gustos de la tierra. La quiero porque está, sin más, y con ella no hay que hacer esfuerzo, hay que dejarse llevar por el viento y hay que aceptar las olas del mar, y ya está!
Marina y Lara son el portuñol, el samba del exilio, la tierra natal allá y la comprensión del que vuelve por acá. Es mi resto de Argentina cotidiana, son nuevas viejas amistades sólo crecientes!
Los chicos (Aiano, Fidel, Alejo, Bruno, Pedro...) son la energía masculina necesaria. Las vueltas en el auto de Fidel, los ensembles y cantos en la escuela de jazz, el samba, el trago, el baile, las bicis, el cine, y tanto más!...
Georgina es de esas amistades que empezaron al final, pero no digo tarde, sí digo que si hubiera más tiempo estoy segura de que hubiéramos tenido más oportunidades de intercambio, más tardes de tela en los bosques de Palermo, más risas y más complicidad tanto en las clases de tela como en la vida!

Hablar de todos es imposible, porque tendría que agregar a tanta tanta gente, como Marta Bellomo siempre tan especial, a todos los de canto que estaban ahí siempre atentos, a los de Cabuia puntapié inicial para todo lo que viene ahora en mi futuro, a la EMAD y las horas pasadas sintiendo que uno perdía su tiempo, y las horas de crecimiento vividas allá y por medio de la EMAD...
Tantos colores, paisajes, sensaciones, tanto tanto tanto!
Saudade, es algo que también la Argentina me enseñó (allá de acá, y acá de allá) pero que no puedo decir en castellano.!
Definitivamente, no sé cuál es mi lengua, no sé cuál es mi lugar, sé que estoy acá, y que soy un poco de todo y eso es gracias a ustedes!








(Le prochain en Français, c'est promis-juré!)

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Tudo pode ser diferente


Tudo pode ser diferente.

Eu gosto dessa sensação de poder se reinventar de vez em quando. Gosto do desafío. Gosto do abismo onde a gente se coloca, do não ter a menor idéia do que vai ser daqui pra frente.
Gosto do medo que dá, é um medo que chama pra vida, um medo que te obriga a acordar, abrir os olhos, levantar da cama, sair de casa e viver. Um medo que te tira da inércia, do automatismo e do corriqueiro.

Quero viver cada dia assim, dessa maneira, sabendo que tudo pode ser diferente. Aproveitando o que tem de bom como se tivesse que viver tudo a pleno, deixando passar o que faz mal, conseguindo abandonar maus habitos... é tão difícil! 
Mas quem quer consegue.
 Esse ano tem sido assim, grandes mudanças, o tempo todo.

Espero conseguir continuar mudando pelo mundo. Estar em cada lugar plenamente. Ter a paciencia pra que as coisas se acomodem sem que se banalizem. Eu quero, eu vou!




Posso contar um segredo, daqui a pouco eu vou, mas já tô voltando! Hoje ganhei passagem pra vir pra cá no natal e ano novo! =D
Família mauquinha a minha! ;-)


segunda-feira, 29 de agosto de 2011

31ºC em São Paulo

Segunda-feira de manhã, meu quarto virou estufa...

Abro os olhos com uma certa resistência, não pode ser que as 7 horas de sono que me outorguei já tenham chegado ao seu fim... Entre as duas persianas do meu quarto passa um raio de sol que vem parar bem na altura dos meu olhos, isso me irrita um pouco... Mas acordar e ver o sol é também coisa boa, eu fico me repetindo isso pra ver se acabo acreditando... Em pouco tempo vou estar longe, e aí sim que meu inverno vai começar de verdade... odeio inverno, acho que as pessoas ficam frias, existe menos contato humano e ninguém tem coragem de se demorar nas ruas... Assim era pelo menos em Buenos Aires, porque pra dizer a verdade, inverno em São Paulo não é inverno de verdade, é uma brincadeirinha de esfria-esquenta.

Depois de enrolar na cama, olho novamente o relógio achando que já devo ter me atrasado, que tô ferrada, que não vi o tempo passar... Passaram 4 minutos, ufa!
Desço as escadas - é sempre um esforço sair da cama e logo ter que descer as escadas do meu quarto- e vejo  o sol intenso que bate na cozinha, ainda bem que à noite deixei a porta-janela da cozinha aberta!
Mas o sol de São Paulo não é somente aquele lá de cima que aquece nossos corpos, o sol de São Paulo tá além disso. O sol de São Paulo é caminhar pelas ruas da Vila Madalena, bairro onde morei desde que nasci (com um intervalo de 3 anos nos quais morei em Buenos Aires), sentir que você conhece cada falha das calçadas, cruzar olhares que te olham com surpresa "Nossa como você tá moça! Nossa como você cresceu!", pois é, o tempo passa, mas aquele taxista ainda lembra da sua vó que faleceu há mais de 5 anos, lembra do cachorro que você tinha e que você falava com ele em francês e em português "O cachorro era mais inteligente do que a gente!" diz ele rindo simpático.
O sol de São Paulo tá na "casa- garagem" do Ceará, aqui na esquina, que apesar da vida dura, coloca música em tudo, e cada meio da manhã, fim de tarde, começo de noite vira festa regada à cerveja pros amigos. Passo lá na frente várias vezes por dia, a cada vez trocamos sorrisos e bom dias. Sempre que passo fico pensando o que será que eles acham que faço da vida, porque às vezes no mesmo dia passo umas 5 vezes com roupas diferentes e sempre carregando bolsas e sacolas... Devem achar que eu tô meio louca, ou que sou contrabandista, com essa carinha de russa!

Pra mim o calor do meu país, da minha cidade, tá nisso também, na minha imaginação transbordante, que fica imaginando histórias.
O calor daqui é mais quente, é cheio de olhares conhecidos, de antigos amigos, de velhos vizinhos, de pássaros que cantam incansavelmente (você já parou pra escutar os pássaros hoje?), de músicas que rompem o silêncio da alma...

Em algumas semanas tô indo embora, mas tô indo porque preciso voltar.
Eu lembro que a primeira vez que eu disse que iria morar fora eu tinha uns 17 anos, e um professor meu (o mesmo do texto da Marina Colasanti) disse que se eu fosse eu não voltaria, mas sabe o que descubrí? Que é justamente o contrário, que preciso ir porque preciso voltar e ver todo esse calor do meu lar. Preciso estar longe, passar por todo tipo de problemas, pela solidão intensa e imensa, sentir saudade, contar só comigo mesma, pra poder voltar e ver tudo com outros olhos. Pra voltar e sentir que esse é o meu lugar. Pra que estar aqui seja uma decisão e não uma mera casualidade.

Eu tô começando a ficar com um frio na barriga de imaginar o frio de Londres. De me imaginar lá longe outra vez, isolada. Mas acho que tenho que ficar firme, falta pouco e apesar de que o calor de novas  (re)descobertas seja muito cômodo, tenho que ir ao banco, ir ao dentista, e todo tipo de "ista", começar a pensar na mala pra fazer, nos amigos pra ver, na família pra viver, nas ruas pra rever, no que eu quero ser.

Cada minuto conta, e eu não tô atrasada, passaram só quatro minutos desde que eu acordei, levantei da cama e desci a escada do meu quarto, dei de cara com o sol e pensei nesse calor todo, calor do corpo, calor da alma...


domingo, 28 de agosto de 2011

Um primeiro passo

Faz um tempo que tenho vontade de ter um espaço para escrever e publicar e postar e essas coisas todas, mas sei lá, é que no fundo tem sempre essa mistura de medo e preguiça que faz a gente não fazer o que quer...
Daí hoje por alguma conexão maluca do meu cérebro, enquanto eu lia, justamente, o blog de uma pessoa querida, me veio à mente aquele texto da Marina Colasanti que um dia um professor impactante leu ao começar a aula... Lembro bem ainda do tom de sua voz, da maneira dele de não dizer nada, simplesmente pegar o livro, olhar para aquela dezena de alunos dispersos e começar a ler em voz baixa, forçando-nos a acalmar-nos e começar a escutar. Lembro da intonação de cada palavra, como se aquele momento tivesse sido marcado à ferro em algum canto da minha memória, e lembro bem da sensação que tudo aquilo me provocou, como se o tempo tivesse se dilatado, e naqueles minutos que durou a leitura, fosse impossível não sentir-se vivo. Lembro do meu peito batendo mais rápido quando chegou o final do texto, lembro da agonia por anotar o nome da autora, do texto, alguma forma de eternizar aquela sensação...
Hoje depois de enviar o texto para àquele que com suas palavras me fez reviver, de alguma forma, aquela sensação, publiquei o mesmo no facebook, e alguns minutos depois tanta gente diferente "curtiu" e comentou, que não pude deixar de pensar que de alguma maneira todas aquelas pessoas estavam sentindo um pouco o que senti naquele instante da minha vida...
Como são as coisas hoje em dia, simultâneamente eu estava conversando com minha querida amiga Leticia, e comentei que tinha vontade de fazer um blog mas que essa preguiça-medo não me deixava agir, foi então que ela simplesmente me respondeu: faça, não se acostume! e Não teve jeito.... Aqui estou!

Primeiro passo é muita coisa, primeiro porque é um caminho sem volta, é desvendar os mistérios de um caminho desconhecido,, é algo que gosto, que me instiga, e faz um bem danado a decisão. Lembro também que Primeiro Passo era o nome da minha primeira escolinha, eu tinha acabado de fazer um ano e para poder estudar lá tinha que andar direitinho, pelo que minha mãe conta eu não andava muito bem e para a surpresa e alívio dela, no dia que ela me levou dei aqueles passos cambaleantes que hoje em dia são marca registrada do meu ser... Primeiro passo é isso, é um arriscar-se, é um "animarse" em espanhol, "oser" em francês...
Eu sinto que os meus primeiros passos são muitos, ainda bem! Talvez seja assim pra todo mundo, mas estou pensando que isso de sentir que você está dando um primeiro passo é revitalizador y aterrador. É um passo no vazio, um passo certeiro na escuridão, arriscar-se sem maneira de voltar atrás. É ir, confiar e arriscar e ponto. Depois a gente vê!
Estou portanto dando esse meu primeiro passo cambaleante de blogueira, será que vai dar certo? Será que vou escrever? Será que vão ler? Pára, respira, avança! O resto a gente pensa depois!

Caos de línguas.
Sei lá, o primeiro passo talvez seja justamente inventar um nome, que difícil! Mas não foi, foi algo espontâneo e pessoal, ainda falando com a Leticia disse que eu provavelmente iria escrever em todas as minhas línguas, e que seria um caos de línguas. E é isso. É um pouco isso que sou também, então mais vale aproveitar.
Aviso, que por essas linhas tudo vai se misturar, não tem jeito, se na minha cabeça existe toda essa confusão, é também isso que me faz ser eu, e eu não tenho escapatória, lost in translation, é uma sina, é minha sina.

Acho que por um primeiro passo já está de bom tamanho (se bem que eu já tô gostando da brincadeira e poderia continuar aqui horas à fio), deixo vocês agora com Eu sei, mas não devia, escrito por Marina Colasanti.

Beijos e até o próximo (primeiro) passo...





Eu sei, mas não devia
Marina Colasanti

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.



A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.
(1972)

Marina Colasanti
 nasceu em Asmara, Etiópia, morou 11 anos na Itália e desde então vive no Brasil. Publicou vários livros de contos, crônicas, poemas e histórias infantis. Recebeu o Prêmio Jabuti com Eu sei mas não devia e também por Rota de Colisão. Dentre outros escreveu E por falar em Amor; Contos de Amor Rasgados; Aqui entre nós, Intimidade Pública, Eu Sozinha, Zooilógico, A Morada do Ser, A nova Mulher, Mulher daqui pra Frente e O leopardo é um animal delicado. Escreve, também, para revistas femininas e constantemente é convidada para cursos e palestras em todo o Brasil. É casada com o escritor e poeta Affonso Romano de Sant'Anna.

O texto acima foi extraído do livro "Eu sei, mas não devia", Editora Rocco - Rio de Janeiro, 1996, pág. 09.