segunda-feira, 29 de agosto de 2011

31ºC em São Paulo

Segunda-feira de manhã, meu quarto virou estufa...

Abro os olhos com uma certa resistência, não pode ser que as 7 horas de sono que me outorguei já tenham chegado ao seu fim... Entre as duas persianas do meu quarto passa um raio de sol que vem parar bem na altura dos meu olhos, isso me irrita um pouco... Mas acordar e ver o sol é também coisa boa, eu fico me repetindo isso pra ver se acabo acreditando... Em pouco tempo vou estar longe, e aí sim que meu inverno vai começar de verdade... odeio inverno, acho que as pessoas ficam frias, existe menos contato humano e ninguém tem coragem de se demorar nas ruas... Assim era pelo menos em Buenos Aires, porque pra dizer a verdade, inverno em São Paulo não é inverno de verdade, é uma brincadeirinha de esfria-esquenta.

Depois de enrolar na cama, olho novamente o relógio achando que já devo ter me atrasado, que tô ferrada, que não vi o tempo passar... Passaram 4 minutos, ufa!
Desço as escadas - é sempre um esforço sair da cama e logo ter que descer as escadas do meu quarto- e vejo  o sol intenso que bate na cozinha, ainda bem que à noite deixei a porta-janela da cozinha aberta!
Mas o sol de São Paulo não é somente aquele lá de cima que aquece nossos corpos, o sol de São Paulo tá além disso. O sol de São Paulo é caminhar pelas ruas da Vila Madalena, bairro onde morei desde que nasci (com um intervalo de 3 anos nos quais morei em Buenos Aires), sentir que você conhece cada falha das calçadas, cruzar olhares que te olham com surpresa "Nossa como você tá moça! Nossa como você cresceu!", pois é, o tempo passa, mas aquele taxista ainda lembra da sua vó que faleceu há mais de 5 anos, lembra do cachorro que você tinha e que você falava com ele em francês e em português "O cachorro era mais inteligente do que a gente!" diz ele rindo simpático.
O sol de São Paulo tá na "casa- garagem" do Ceará, aqui na esquina, que apesar da vida dura, coloca música em tudo, e cada meio da manhã, fim de tarde, começo de noite vira festa regada à cerveja pros amigos. Passo lá na frente várias vezes por dia, a cada vez trocamos sorrisos e bom dias. Sempre que passo fico pensando o que será que eles acham que faço da vida, porque às vezes no mesmo dia passo umas 5 vezes com roupas diferentes e sempre carregando bolsas e sacolas... Devem achar que eu tô meio louca, ou que sou contrabandista, com essa carinha de russa!

Pra mim o calor do meu país, da minha cidade, tá nisso também, na minha imaginação transbordante, que fica imaginando histórias.
O calor daqui é mais quente, é cheio de olhares conhecidos, de antigos amigos, de velhos vizinhos, de pássaros que cantam incansavelmente (você já parou pra escutar os pássaros hoje?), de músicas que rompem o silêncio da alma...

Em algumas semanas tô indo embora, mas tô indo porque preciso voltar.
Eu lembro que a primeira vez que eu disse que iria morar fora eu tinha uns 17 anos, e um professor meu (o mesmo do texto da Marina Colasanti) disse que se eu fosse eu não voltaria, mas sabe o que descubrí? Que é justamente o contrário, que preciso ir porque preciso voltar e ver todo esse calor do meu lar. Preciso estar longe, passar por todo tipo de problemas, pela solidão intensa e imensa, sentir saudade, contar só comigo mesma, pra poder voltar e ver tudo com outros olhos. Pra voltar e sentir que esse é o meu lugar. Pra que estar aqui seja uma decisão e não uma mera casualidade.

Eu tô começando a ficar com um frio na barriga de imaginar o frio de Londres. De me imaginar lá longe outra vez, isolada. Mas acho que tenho que ficar firme, falta pouco e apesar de que o calor de novas  (re)descobertas seja muito cômodo, tenho que ir ao banco, ir ao dentista, e todo tipo de "ista", começar a pensar na mala pra fazer, nos amigos pra ver, na família pra viver, nas ruas pra rever, no que eu quero ser.

Cada minuto conta, e eu não tô atrasada, passaram só quatro minutos desde que eu acordei, levantei da cama e desci a escada do meu quarto, dei de cara com o sol e pensei nesse calor todo, calor do corpo, calor da alma...


2 comentários:

  1. Querida,
    Engraçado como esse sentimento de casa nos escapa, não é? Tenho a sensação que é o próprio presente escorregando nos nossos dedos... nos fazendo desejar um futuro que nunca chega ou relembrando com nostalgia um passado que não volta.
    Tenho percebido que, pelo menos para mim, casa está na conexão (a palavra do momento para mim) que se estabelece com algumas, poucas, pessoas e que não vai embora... isso cria memória, amor e energia que não se esvai com o tempo e nem muda com o espaço.. fica.
    Por isso, querida, fique tranquila, porque sua casa está bem guardada com cada um de nós que você deixa, mas volta pra buscar de tempos em tempos...
    beijos mil.
    e voe! que estarei aqui (ou lá) pra te avistar!

    ResponderExcluir
  2. Linda! Obrigada querida!
    Aceito esses braços amigos abertos e saiba que os meus também estão e que mesmo com a distãncia pode gritar qualquer coisa!
    Beijos grandes e agradecidos desses anos todos de amizade! ;-)

    ResponderExcluir